Dona Maria Luiza faz sua paçoca durante o 'Museu Vivo' |
O domingo está cinzento, as nuvens carregadas e o Parque da Cidade quase deserto, mas aos primeiros acordes dos violões dos irmãos Danilo e Daniel as pessoas começam aparecer e se juntar em torno da dupla. No ‘Museu Vivo’, hoje é dia de escutar moda de viola tocada por dois baianos, de comer paçoca feita pela perfeccionista dona Maria Luiza e de aprender a fazer peneira de taquaruçú com a inventiva dona Lecidina.
Danilo
e Daniel são dois apaixonados pela música caipira. Tão apaixonados que do
sotaque baiano não sobrou vestígio. Eles falam é mesmo arrastado, como a gente
do interior paulista.
Quando
pequenos escutavam o pai tocar viola (emprestada, que ele mesmo nunca teve
dinheiro para comprar o instrumento) e ouviam as modas da época num radinho de
pilha, à noite, na cozinha da casa. Sonhavam tocar e cantar um dia e com o
primeiro dinheiro que juntaram compraram um violão e começaram a praticar.
Enquanto um tocava o outro cantava.
Os
dois irmãos nunca cobraram para se apresentar, quando tocam é por prazer. E
prazer é o que se vê estampado nos rostos da assistência, embevecida com a
dupla.
E
o povo vai chegando, atraído também pela deliciosa paçoca de dona Maria
Luiza. Quem comeu repetiu, este
tradicional doce preparado ali mesmo, num pilão de madeira de ipê, que dona
Maria Luiza usa para pilar sua paçoca a cada Quaresma.
Sentada
no chão, porque é assim que ela faz desde pequena, dona Lecidina trança as
varinhas de taquaruçú que vão formar a peneira que é usada para abanar as
cascas do amendoim torrado, ingrediente principal da paçoca.
As
crianças olham hipnotizadas para o sobe e desce da mão do pilão, os gulosos
comem e repetem uma e duas vezes a paçoca. Alguns até pedem para levar para mãe
ou avó que ficou em casa.
Uma voluntária do Museu do Folclore passa com uma bandeja
distribuindo a paçoca e a maioria das pessoas pergunta quando custa o copinho e
fazem cara de surpresa quando ficam sabendo que é de graça.
Dona
Lecidina termina de fazer sua peneira, mas suas mãos não conseguem ficar
paradas. Percebe que acabaram as colherzinhas de plástico para a paçoca e num
instante produz uma dúzia delas com o bambu que sobrou das peneiras. Não
satisfeita, confecciona pequenas cestas, jacás e balaios, miniaturas dos
objetos que ela usava na roça quando criança.
Mais
violeiros aparecem e revezam-se com a dupla dos irmãos baianos. A chuva começa
a cair fina, mas ninguém parece se incomodar. A animação
é grande e ninguém quer parar, mas o parque tem que fechar os portões dali a
pouco e o ‘Museu Vivo’ encerra mais uma edição, sob protesto da audiência e de
alguns violeiros que ainda não haviam tocado.
Texto e fotos: Chico Abelha
Texto e fotos: Chico Abelha