Dona Laudelina começa a torrar o amendoim para fazer a poçoca |
Domingo de sol, temperatura agradável, vai começar mais um Museu Vivo, projeto do Museu do Folclore, que todos os domingos promove o encontro de protagonistas da cultura popular, no Parque da Cidade.
Seu Diarone, um simpático senhor
de 60 anos, toca a matraca, essa mesma que usam os vendedores de biju para
anunciar o produto nas ruas. O povo se reúne ao seu redor para ouvir a história
deste instrumento de madeira e metal, que hoje é usado nas procissões da Semana
Santa.
No século VIII a Igreja proibiu
os cristãos de tocar sinos (e músicas profanas) da Quinta-feira Santa ao Sábado
de Aleluia. Sugeriu que os substituíssem batendo pequenos pedaços de madeira,
como faziam os fiéis escondidos nas catacumbas quando não possuíam sinos e eram
perseguidos pelos soldados romanos. Essa teria sido a origem das matracas, que
se tornaram instrumentos oficiais da Semana Santa.
No ar, o cheiro delicioso do
amendoim sendo torrado anuncia que está quase pronta a paçoca de Dona
Laudelina, uma mineira de Bocaina de Minas que, mesmo sendo testemunha de
Jeová, não perdeu o costume de preparar este doce no período da Quaresma. “De
primeiro eu fazia no pilão, mas hoje as costas não permitem, aí eu faço mesmo é
no liquidificador”, diz ela.
Dona Laudelina escolhe bem o
amendoim antes de torrar. Depois ela coloca numa peneira, esmaga os grãos com a
mão para tirar a casca e joga-os para o ar para que o vento leve as películas e
se não tiver vento, tem que assoprar mesmo. “Paçoca boa é feita com amendoim
sem casca, pois isso de botar a casca é coisa de paçoqueiro preguiçoso”.
Dona Laudelina é esposa de seu
Otto, um irrequieto senhor de 85 anos, que depois que se aposentou, decidiu
fazer aquilo que lhe dava as maiores notas na escola quando era menino. Nas
outras disciplinas só tirava 2, 3 ou 4, mas em trabalhos manuais ganhava sempre
um 10 com louvor.
Um dia, seu Otto achou um pedaço
de casca de árvore que tinha cara de pássaro. Tirou um pedaço daqui, outro
dali, colou toquinhos de bambu, a guisa de pernas, sementinhas fizeram os olhos
e com folhas de palmeira fez o rabo do bichinho. Desde então nunca mais parou
de criar com os materiais naturais. Diz ele que seu trabalho é “artesanato com
materiais naturais com o máximo de semelhança com o real”.
Seu Otto chegou ao recinto em que
acontece o Museu Vivo, espalhou seus objetos em cima de uma mesa e deu uma aula
de como é feito cada um deles. Depois, foi pegar umas folhas de palmeira,
frutinhos do cedro e do pinheiro, pedacinhos tortos de madeira, coquinhos secos
e bagas do guapuruvú. Didático, ele explica o que vai fazer com cada um dos
elementos que achou. Logo depois Seu Otto aparece em cima de duas pernas de pau
e o povo todo bate palmas para esta atração inusitada.
Seu Zé da Viola retoma a música,
que claro, havia parado para ver seu Otto andar com as pernas de pau. Seu Zé da
Viola é antigo frequentador do Museu Vivo e sempre traz seus alunos para se
apresentarem com ele. E como acontece praticamente todos os domingos, alguém da
platéia se anima e se junta ao grupo para tocar ou cantar.
Dos muitos visitantes do Museu
Vivo, Dona Maria Luiza sempre aparece com seu esposo, seu Ivair, a fiha e o
netinho. Ela tece utensílios de bambu e desta vez trouxe um covo de pesca para
nos mostrar como é feito. Diz que prefere ir ao museu a ficar em casa vendo
televisão.
Texto e fotos: Chico Abelha